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Após três anos de actividades na área da promoção da Saúde Sexual e Reprodutiva (SSR) e da prevenção do VIH/SIDA, chegou ao fim o projecto “Saber é Poder” da Médicos do Mundo (MdM) em São Tomé e Príncipe (STP), iniciado em Março de 2011, que contou com o financiamento da Comissão Europeia e do Camões – Instituto da Cooperação e da Língua.
A intervenção da MdM teve como objectivo geral o de contribuir para a redução da gravidez precoce, em particular entre as jovens dos 11 aos 24 anos, aumentando o acesso aos serviços e a qualidade da oferta nos seis distritos do país africano. Uma actuação que teve por base a incidência média de casos de gravidez em adolescentes, que se manteve nos 7,6% entre 2004 e 2008, e a diminuição da utilização de contraceptivos de 2,2% em 2005 para 1,6% em 2008, apesar das diversas iniciativas desenvolvidas pelas autoridades são-tomenses.
O trabalho executado no âmbito do “Saber é Poder” implicou uma acção em várias vertentes: educativa, institucional e de comunicação/sensibilização. Foram assim desenvolvidas campanhas através dos meios de comunicação social sobre SSR e uma parceria com actores locais visando a implementação das diversas actividades do projecto.
A MdM prestou ainda apoio e colaborou com redes e associações de jovens, como o Instituto da Juventude de STP, com vista a promover o acesso dos mais novos a uma melhor informação sobre direitos, saúde e educação sexual. Foram transmitidas orientações sobre comportamentos sexuais mais seguros, meios de contracepção, VIH/SIDA, serviços de saúde em matéria de SSR e desenvolvimento de capacidades para a vida.
"Saber é Poder" em números
Os resultados obtidos pelo projecto “Saber é Poder” confirmam o impacto positivo das actividades desenvolvidas pela MdM em STP, as quais tiveram dois objectivos específicos: por um lado, o aumento da percentagem de jovens dos 15 aos 19 anos que conhecem e usam métodos contraceptivos modernos e, por outro, a redução da percentagem dos que iniciam a vida sexual antes dos 15 anos.
No início do projecto apenas 12,8% (entre os 15 e os 19 anos) e 32,5% (entre os 20 e 24 anos) das jovens sexualmente activas utilizavam métodos contraceptivos modernos, números que três anos depois se situam nos 75,2% e 67%, respectivamente. Nos jovens do sexo masculino, inicialmente 65% (dos 15 aos 19) e 63,3% (dos 20 aos 24) dos sexualmente activos tinham usado preservativo na última relação sexual, percentagens que em 2014 passaram a 73,9% e 59%, respectivamente.
Quanto ao objectivo de redução da percentagem de jovens que iniciam a vida sexual antes dos 15 anos, os dados apontavam inicialmente para 9,7% (dos 15 aos 19 anos) e 11,7% (dos 20 aos 24), sendo que, na conclusão do projecto, se alcançaram 16,1% e 21,2%, respectivamente.
A MdM conseguiu ainda aumentar para 40 os técnicos de saúde capacitados em matéria de SSR e para mais de 14 mil o número de jovens a participar nas actividades desenvolvidas nos centros de interacção jovem.
No total foram produzidos e distribuídos 100 manuais de SSR, 50 guias práticos de directrizes para as consultas de SSR, 75 álbuns de fichas metodológicas de SSR, 2.000 folhetos sobre gravidez precoce e 2.000 sobre métodos contraceptivos modernos, 500 t-shirts, 1 spot televisivo e radiofónico, 300 cadernos, 300 sacos de pano, 300 bonés, 1 faixa do projecto e 8 placas identificativas.
Métodos contraceptivos em São Tomé
Um inquérito realizado pela MdM no final do projecto forneceu dados importantes sobre o uso de métodos contraceptivos em STP que demonstram a necessidade de continuar a trabalhar esta temática com acções dirigidas aos jovens:
- A percentagem de jovens inquiridas que utiliza um método contraceptivo é maior nos distritos de Água Grande (80,8%) e Mé-Zochi (76,6%), sendo a menor no distrito de Caué (47,1%).
- O método contraceptivo mais utilizado pelas jovens inquiridas é o preservativo masculino (64%), seguido da pílula contraceptiva (22%).
- A razão mais apontada é “Não gostar de usar” (31%), seguido da vontade das jovens de engravidarem (21%) ou não se preocuparem com a gravidez (10%). De salientar que 10% das inquiridas refere a não utilização de um método porque o parceiro não quer.
- A percentagem de utilização do preservativo na última relação sexual pelos rapazes dos 15 aos 24 anos é maior nos distritos de Água Grande (76,0%) e Mé-Zochi (75,5%), sendo a menor no distrito de Caué (54,5%).
- A maioria dos jovens que não utilizou preservativo na última relação apontou o facto de não ter preservativo no momento (34%). De salientar que 24% destes jovens referiram não gostar de usar preservativo e 28% referiram não usar por ter uma relação de fidelidade com a parceira, referindo-se por isso à preocupação com IST e não com uma gravidez.
O lado Leve-Leve da vida
Testemunho de Ana Baptista, Coordenadora do projecto “Saber é Poder”
Cheguei a São Tomé e Príncipe carregada de malas e de expectativas em relação ao que me esperava. Durante os 3 anos e uns dias que ali vivi, fui-me sentindo cada vez menos carregada e mais leve-leve, esse que é o ritmo de vida dos santomenses.
Deixei-me embalar pelos ventos fortes que chamam a chuva que refresca o calor intenso e húmido em que vivi, sem precisar de ar condicionado. Deixei-me levar pelas estradas esburacadas que me levaram, de norte a sul dos 1001 km2 de território nacional, a algumas das mais envolventes paisagens que já vi. Fiquei a saber que em S. Tomé, a natureza nos brinda com mais de 400 tons de verde, uma moldura impressionante e que por vezes mais parece um quadro, um desenho feito à mão.
Testemunhei o nascimento de tartarugas e tive o privilégio de as lançar ao mar. Dormi na praia, embalada pelas ondas do mar. Incontáveis mergulhos. Conheci e adorei sape-sape, safú, carambola, jaca, izá-quente, kalulu, água de daua, kom-kom e tantas outras maravilhas gastronómicas. Conheci as propriedades das plantas no bem-estar das pessoas. Fui muitas e tantas vezes chamada de “branca” na rua, nas roças, mas também recebi sorrisos tímidos e atrevidos e participei em festas tradicionais, onde fui bebendo um pouco da cultura local. Comprei tecidos africanos e fiz roupas. Despedi-me demasiadas vezes de amigos, abracei outros tantos.
Durante o tempo que ali vivi, lembro-me sobretudo de acordar todos os dias com vontade e curiosidade pelo dia que estava a começar. De uma forma simplista, acho que a isso se chama estar de bem com a vida, mas também pode ser sinónimo de um estado de espírito que se adquire, uma leveza muito própria típica do povo santomense e que nos torna mais… leve-leve.
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Crédito foto: ©MdM | Projecto "Saber é Poder" em São Tomé e Príncipe.
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