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A Médicos do Mundo, através do projecto “Porto Escondido”, participou no 14º Encontro Nacional de Actualização em Infecciologia (ENAI) que decorreu entre 14 e 16 de Outubro, no Porto Palácio Congress Hotel. Organizado pelo Serviço de Doenças Infecciosas do Centro Hospitalar do Porto/Unidade Joaquim Urbano e Associação de Apoio às Reuniões de Infecciologia (ARRI), o encontro teve como objectivo assegurar a actualização de conhecimentos por parte de profissionais médicos e de outras áreas da saúde.

 

A Infecciologia é, actualmente, uma área em permanente transformação que obriga a uma constante actualização de conhecimentos para melhor intervenção junto dos utentes. Ainda mais considerando que o diagnóstico precoce e a adopção atempada de medidas adequadas de controlo são determinantes para a eliminação da infecção e minimização do risco de disseminação.

 

Com a presença de especialistas nacionais e internacionais, o ENAI abordou diversos temas na área da Infecciologia, com destaque para o tratamento da hepatite C crónica, sífilis e infecção por VIH e SIDA.

 

 

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 Crédito foto: ©Francisca Jesus 

 

 

Aumentar acesso ao tratamento da hepatite C crónica

 

O tratamento da hepatite C crónica encontra-se hoje bem definido nos vários genótipos e diferentes graus de fibrose. A grande novidade está no facto da terapêutica do sofosbuvir poder agora ser utilizada em doentes sem cirrose de Genótipo 3. Ainda assim, existe a necessidade de aumentar não só o número de utentes com acesso ao tratamento, como o diagnóstico precoce da doença. Quanto mais prolongado for o tratamento, maiores serão as taxas de sucesso.

 

Considerado um dos problemas de saúde pública global, o vírus da hepatite C (VHC) atinge 185 milhões de pessoas no mundo, sendo que todos os anos morrem 350 mil pessoas devido à infecção. Estima-se que a prevalência mundial ronde os 3% e na Europa se aproxime de 1%.

 

No tratamento da hepatite C os co-infectados são considerados uma das populações especiais devido sobretudo ao estilo de vida, às dependências que modificam a adesão, às terapêuticas de substituição que comprometem os novos fármacos e ao risco de interacções com as terapêuticas utilizadas para outras patologias, como é caso dos anti-retrovirais. Por isso, estes doentes devem ser avaliados cuidadosamente antes da terapêutica e ajustados ou mesmo retirados outros fármacos que reduzam a eficácia dos anti-retrovíricos de acção directa ou que aumentam o risco de toxicidade de órgãos.

 

As pessoas co-infectadas que iniciam tratamento para o VHC têm que efectuar tratamento anti-retroviral (TARV) também preferencialmente um mês antes de iniciar o tratamento para o VHC. Relativamente à co-infecção vírus da hepatite B (VHB) + VIH, as duas infecções devem ser tratadas em simultâneo. Já o tratamento para o VHB não tem qualquer interferência com outros fármacos.

 

 

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Crédito foto: ©Francisca Jesus

 

 

Sífilis, a emergência de uma velha doença

 

A sífilis ganhou novo espaço a partir dos anos 90 e é hoje um problema de saúde pública nos países desenvolvidos e em desenvolvimento. No diagnóstico, a serologia continua a ser a base do estudo laboratorial da doença. Mas, apesar dos avanços nas técnicas laboratoriais, não é possível, por exemplo, diferenciar uma sífilis tratada de uma sífilis latente.

 

Assim, a técnica mais adequada é a da biologia molecular, sendo que as guidelines para os testes de diagnóstico baseiam-se nos testes treponémicos. Numa situação de resultado positivo no teste rápido da sífilis, deve ser solicitado sempre um teste de diagnóstico com título VDRL (sigla do inglês Venereal Disease Research Laboratory, referente ao teste serológico de floculação para o diagnóstico da sífilis).

 

A pesquisa de ADN do Treponema pallidum demonstrou inegável valor no diagnóstico definitivo da sífilis primária, secundária e congénita. Mantêm-se grandes limitações no diagnóstico de neurosífilis, sífilis terciária e latente. Quanto ao tratamento, a penicilina continua a ser a primeira linha na abordagem desta infecção em todos os estádios da doença. 

 

À semelhança de outros países europeus, em Portugal têm sido notificados casos de sífilis recentemente (a maioria corresponde a uma sífilis primária), com maior número no sexo masculino, no grupo etário 25-34 anos e nos homens que fazem sexo com homens. No entanto, existe a nível nacional um grave problema de sub-notificação da doença.

 

 

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Crédito foto:  ©Francisca Jesus

 

 

Infecção por VIH: aproveitar as oportunidades

 

Considerada durante muito tempo uma doença letal, com poucos ou nenhuns meios de tratamento, a infecção por VIH e SIDA é actualmente encarada como uma doença crónica e de controlo relativamente simples. No entanto, mantém-se a grande importância de continuar a investir no diagnóstico precoce, na adesão à TARV, para não criar situações de infecção VIH multirresistente, e também através do início da TARV logo após o diagnóstico positivo em todas as pessoas infectadas, independentemente dos sintomas, da contagem das células CD4 ou dos níveis de carga viral.

 

Em Portugal a notificação precoce da infecção e o início da TARV em todos os casos são factos positivos, já que o diagnóstico precoce está intrinsecamente relacionado com a possibilidade de erradicação da infecção em 2030. Os dados sobre a infecção revelam que Lisboa apresenta uma taxa de novos casos quatro vezes superior à média nacional, seguindo-se Porto e Faro. De acordo os números de 2013, 21% dos novos casos notificados ocorrem em populações migrantes mas, tal como nos utilizadores de drogas endovenosas, os casos são notificados cada vez mais cedo.

 

 

publicado às 17:20


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