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Cerca de 3000 imigrantes estão a viver num terreno municipal em Calais, França, a aguardar oportunidade para entrar no Reino Unido. A situação no local tem vindo a degradar-se, o que levou a Médicos do Mundo, através da Delegação Francesa, juntamente com outras quatro organizações, a utilizar os seus meios logísticos normalmente reservados a situações de guerra ou de catástrofes.
No final de Março, sob pressão das autoridades, os imigrantes concentrados em Calais, foram obrigados a instalar-se neste terreno sem quaisquer infra-estruturas, nas proximidades do centro Jules Ferry. Este local de acolhimento aberto em Março de 2015 para 1000 a 1500 pessoas, encontra-se já saturado.
As condições de vida nesta “selva autorizada” são absolutamente inéditas na Europa, não respeitando as normas das Nações Unidas - Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR) e Organização Mundial de Saúde (OMS): insuficiente acesso a água potável (30 torneiras), reduzido número de casas de banho (20 para 3000 pessoas), alimentação escassa e acesso inadequado a cuidados de saúde. Neste bairro de lata concentram-se homens, mulheres e crianças com o número de pessoas a aumentar todos os dias.
O Ministro do Interior de França anunciou na semana passada a realização urgente de obras para organizar o terreno. No entanto, mesmo estes trabalhos parecem insuficientes.
A degradação da situação levou ao aumento das tensões e vulnerabilidade das pessoas. Face a esta situação excepcional, a Médicos do Mundo, através da Delegação Francesa, juntamente com outras quatro Organizações Não-Governamentais (ONG), coloca no terreno as suas competências e meios logísticos habitualmente reservados para situações de guerra ou de catástrofe, de forma a socorrer estas pessoas e chamar à responsabilidade os poderes públicos.
A Médicos do Mundo disponibiliza clínicas móveis com consultas de medicina geral e apoio psicológico; a Solidarités International distribui kits de higiene a todas as pessoas do campo, assim como recipientes para armazenar água potável, para além de construir blocos sanitários compostos por espaços de duche e de latrinas; a Secours Catholique Caritas France deslocou uma equipa de emergência, em ligação com voluntários locais, para fornecer recursos e construir, juntamente com os imigrantes, abrigos, cozinhas comunitárias e outras instalações; e a Secours Islamique de França distribui 3000 embalagens de alimentos.
As ONG presentes no local defendem um plano urgente por parte das autoridades locais e nacionais que contemple, entre outras situações, alojamento de acordo com as necessidades reais; desmantelamento do acampamento e criação de albergues em várias regiões do país; acções específicas para ajudar os imigrantes a solicitar asilo em França e diminuição da atribuição deste estatuto; para além da revisão da Convenção de Dublin que obriga as pessoas a apresentarem o pedido de asilo no Estado onde deram entrada na União Europeia (UE).
Veja aqui a reportagem da Euronews com declarações de Anne Kamel, médica da Delegação Francesa da Médicos do Mundo, que descreve os principais problemas vividos por estes imigrantes.
Também a cadeia de televisão norte-americana CNN esteve no local, considerando o acampamento uma “selva”. Assista aqui a esta reportagem com intervenção de Isabelle Bruand, Coordenadora Regional da Delegação Francesa da Médicos do Mundo.
Apoio da Médicos do Mundo aos imigrantes no campo de Calais
Crédito foto: ©Olivier Papegnie
Campo de acolhimento dos imigrantes em Calais
Crédito foto: ©Olivier Papegnie
A Rede Internacional da Médicos do Mundo (MdM) lançou um apelo aos 28 países da União Europeia para que tomem medidas e encontrem uma solução com vista a salvar a vida dos milhares de pessoas que fogem da crise no Médio Oriente, colocando fim às tragédias constantes, tal como aquela que recentemente teve lugar no Mediterrâneo.
O mais recente acidente no mar Mediterrâneo com imigrantes é uma tragédia demasiado grande. 700 imigrantes perderam a vida no último sábado depois de terem morrido 400 no sábado anterior. Quantas pessoas terão de perder a vida antes das autoridades europeias tomarem as medidas necessárias? O Mare Nostrum, berço das civilizações, não deve tornar-se um cemitério à beira mar.
Existem muitas razões pelas quais as pessoas fogem do seu país, da sua comunidade e da sua vida passada: pobreza, fome, discriminação, violência, guerra e esperança de encontrar liberdade e um futuro melhor para os seus filhos. Por trás de cada uma destas vítimas, homens, mulheres e crianças, existem situações difíceis, tragédias e a vontade de reconstruir um destino.
Não podemos esquecer que os imigrantes não abandonam o seu país por gosto. Fazem-no para salvar a própria vida, para fugir da pobreza, para encontrar oportunidades que não estão disponíveis no seu país e para conseguir um futuro melhor para os seus filhos. Fazem-no na esperança de conseguir uma vida melhor e talvez um dia regressar orgulhosos do seu sucesso.
Segundo Thierry Brigaud, Presidente da Delegação Francesa da MdM, “actualmente, devido à escalada dos conflitos pelo mundo, um número crescente de pessoas fogem da sua pátria sem expectativas de regressar. Estes refugiados fogem da violência e de outras circunstâncias extremas. Porque não recebê-los bem em vez de lhes pedirem para arriscar a vida? É difícil não nos sentirmos ultrajados pelo facto da Europa não conseguir organizar um salvamento no Mar Mediterrâneo digno desse nome. Os líderes europeus fingem não ter poder, o que constitui uma falha grave. As ONG’s humanitárias não têm a solução nas suas mãos. Mas se os líderes Europeus continuarem a adiar a solução para o problema, o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR) deve intervir e liderar as operações de salvamento. As Nações Unidas têm a responsabilidade de proteger os civis nestas zonas de guerra. É imperativo que lhes seja dada mais protecção, mais solidariedade e mais fraternidade.”
A imigração é um direito humano. Vamos mudar o paradigma. Não podemos olhar para a situação como um ataque. Temos que olhar para o problema como ele é na realidade ou seja, uma oportunidade.
Há muito que a Médicos do Mundo assumiu um compromisso com as populações imigrantes e defende os direitos destas. A MdM acompanha os imigrantes desde as suas pátrias, desde o Afeganistão, Síria, África Subsaariana, entre outros países, e ao longo dos seus percursos, através da Turquia, Argélia e Sahel. Ao longo deste caminho, a MdM presta os cuidados médicos necessários e testemunha as consequências negativas para a saúde das políticas de imigração implementadas pelos 28 países Europeus.
Identificar os obstáculos que os imigrantes residentes na Europa enfrentam no acesso aos serviços de saúde é o objectivo do estudo aMASE - advancing Migrant Access to health Services in Europe (em português, aumentar o Acesso dos Imigrantes aos Serviços de Saúde na Europa), que está a decorrer até ao final de Fevereiro.
Para participar basta ter mais de 18 anos, residir há mais de 6 meses fora do país de origem e preencher um inquérito online sobre as experiências com os serviços de saúde. Todas as informações fornecidas são confidenciais, não existindo recolha de dados de identificação.
As informações serão depois utilizadas para ajudar a planear os serviços de saúde e garantir a todos melhores cuidados na Europa, independentemente do país de origem. Para isso, os resultados serão partilhados com as comunidades de imigrantes em todo o continente, serviços nacionais de saúde e organizações locais relacionadas com a saúde e bem-estar, para além de estudos académicos.
O aMASE é financiado pela União Europeia (UE) e implementado por investigadores da University College de Londres e do Instituto de Saúde Carlos III em Espanha. Para a sua realização foi obtida aprovação ética junto do The London Bentham Research Ethics Committee.
Saiba mais sobre o estudo aMASE.
Clique aqui ou na imagem abaixo para aceder ao inquérito online e seleccione a língua pretendida.
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